quarta-feira, 4 de julho de 2007

Suor em Stanford

Onde você estava na tarde do dia 4 de julho de 1994?

Bem, se gosta de futebol, certamente sofrendo e assistindo ao jogo entre Brasil e Estados Unidos, válido pelas oitavas-de-final da Copa do Mundo daquele ano.

Era feriado nos EUA, dia da independência do país, o que ajudava a garantir o público de 84.147 pessoas que lotavam o Estádio de Stanford, na Califórnia.

O patriotismo americano, nem é preciso dizer, não podia estar mais insuflado, garantindo a atmosfera de grande decisão a um jogo entre um país tricampeão mundial e um outro sem qualquer tradição no futebol masculino.

Assim, a partida ganhou contornos de grande clássico, com os americanos fazendo o jogo de suas vidas, e com os jogadores dos dois times sofrendo com um calor escaldante, além, é claro, da pressão natural atinente à responsabilidade de jogar uma partida eliminatória do mais importante de todos os torneios de seleções.

O time brasileiro, diga-se, era fraco, sem grande poder de criação, e jogava dentro de um esquema que privilegiava o sistema defensivo, destoando, pois, das grandes seleções com que nos acostumamos nos tempos áureos do nosso tricampeonato, e mesmo das brilhantes equipes montadas pelo mestre Telê Santana nas copas de 82 e 86.

No Brasil, a torcida, como sempre, era grande pela seleção canarinho, mas a confiança andava abalada pelos fracassos recentes, e a insatisfação contra o esquema de jogo, tido como defensivo demais, ajudava a criar um clima de temor quanto ao destino de nossa equipe na competição.

O fato é que a partida, que poderia ter sido fácil em circunstâncias normais para a seleção brasileira, acabou ganhando contornos de dramaticidade, sobretudo após a inexplicável atitude do até então disciplinado lateral-esquerdo Leonardo, que, em jogada fortuita, no final de um primeiro tempo já considerado difícil, desferiu fortíssima cotovelada contra o rosto de Tab Ramos, vindo, pois, a ser expulso.

Aquilo aumentou ainda mais a pressão sobre os brasileiros, que, apesar de se autodenominarem os reis do futebol, há vinte e quatro longos anos sofriam com a falta de um título mundial, vendo a ameaça cada vez mais real dos alemães e italianos à sua tão cantada supremacia no esporte.

O jogo, assim, parecia correr para o seu triste e inevitável destino, num segundo tempo de muito combate e pouca inspiração, com duas equipes cada vez mais desgastadas em campo, até que, mesmo com um jogador a menos, aos 72 minutos, numa jogada de puro talento dos únicos verdadeiros craques do time brasileiro, Romário e Bebeto, com um chute de precisão cirúrgica deste último no canto do goleiro Tony Meola, veio o desafogo.

O Brasil vencia aquele jogo por um a zero, e, muito mais do que isso, iniciava ali, treze anos atrás, uma nova caminhada rumo ao topo do futebol mundial.

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